Relata-se o caso de uma cadela diagnosticada com SGLC (Síndrome do Granuloma Lepróide Canino) encaminhada para tratamento com ozônio, visando o tratamento das lesões granulomatosas e combate à infecção local.

 

Renata N. Serafim¹; Iolanda Bettencourt¹; Cristiane L. F. de Toledo¹; Mariara C. S. Dias¹; Roberta P. G. Golob¹
1Médica Veterinária na ReabiVet – Medicina Preventiva e Reabilitação Animal. Autora para correspondência: iobett@uol.com.br

 

Histórico

Foi atendida pela equipe veterinária da ReabiVet um canino, fêmea, com mais ou menos 2 anos de idade, sem raça definida, com histórico de lesões granulomatosas e alopecia em pavilhão auricular bilateral. Foram realizados exames complementares, tais como: CAAF (citologia aspirativa por agulha fina), no qual concluiu processo inflamatório granulomatoso, possivelmente por Mycobacterium sp; o exame histopatológico confirmou o diagnóstico de SGLC.

 

Tratamento e Evolução

O tratamento com antibiótico Marbofloxacina 82,5mg, 1 comprimido SID foi feito por colega clínico geral durante 4 (quatro) meses, após este período teve início ao tratamento na ReabiVet com a prescrição de Ômega 3 1000mg, 1 cápsula SID 60 dias, óleo de borragem 500mg, 1 cápsula SID 60 dias, probiótico 2g SID 15 dias, e sessões de ozonioterapia.

Foram realizadas vias sistêmicas e locais para aplicação do gás ozônio nas seguintes doses, 13 mcg em 120 mL por insuflação intraretal, 13 mcg em 20 mL distribuídos nos pontos de acupuntura BH, B23, B17, VB21, E36; aplicação por via subcutânea de 10 mcg em 10 ml distribuído entre os pavilhões auriculares, auto-hemoterapia menor ozonizada a 40 mcg em 2 mL de sangue retirado da veia cefálica e reaplicado em VG14, ponto de acupuntura com função imunorreguladora.

As aplicações foram realizadas uma vez na semana, durante 10 semanas, e seguem quinzenalmente até os dias atuais.

Após a segunda aplicação do ozônio, de acordo com sinais clínicos, percebeu-se uma melhora no aspecto das lesões e melhora da alopecia.

Após a quarta aplicação do ozônio, foi cessado o tratamento com antibioticoterapia, e mantido somente o tratamento com ozônio e suplementos acima citados.

Após a sétima aplicação do ozônio, as lesões estavam quase imperceptíveis e a região consideravelmente repilada.

Após a décima aplicação as lesões haviam desaparecido completamente e os pelos cobriam o pavilhão auricular de forma uniforme.

Foram realizadas as aplicações com o ozônio visando restabelecimento da área lesionada, na busca do efeito cicatrizante, anti-inflamatório, bactericida e de oxigenação local do gás.

 

Discussão e Conclusão

 A SGLC, ou como é também conhecida “Lepra Canina”, consiste em uma afecção nodular piogranulomatosa que atinge pele e tecido subcutâneo de cães (Deluchi, 2014).

O agente causador consiste em uma micobactéria ainda não tipificada de baixa virulência e patogenicidade, tendo melhor crescimento em áreas corpóreas de menor temperatura (Kulek, 2011).

Manifesta-se por nódulos solitários ou múltiplos ou múltiplos bem limitados, firmes e indolores, em qualquer parte do corpo (Birchard, 2008), circunscritos principalmente em região cefálica e superfície dorsal de orelha (Balda, 2014).

Nas regiões nodulares pode-se observar alopecia, e até processo ulcerativo no caso de lesões maiores (Kulek, 2014); órgãos internos e linfonodos regionais não são afetados, portanto os cães não manifestam sintomas sistêmicos (Birchard, 2008).

Os animais predispostos são cães de médio a grande porte, com pelagem curta e que vivem em ambiente externo, devido a transmissão ocorrer através da picada de insetos artrópodes (Deluchi, 2014) como mosca, mosquito-pólvora ou pernilongo (Birchard, 2008).

O diagnóstico deve-se basear em sinais clínicos observados, e realização de exames complementares, como o citológico (aspiração por agulha fina) e o histopatológico da lesão (Deluchi, 2014).

Um dos tratamentos indicados consiste na excisão cirúrgica, no caso de Granuloma solitário; porém em lesões crônicas, não curadas, a terapia com antimicrobianos mostra-se efetiva.

Na maior parte dos casos as lesões são auto-limitantes, e a cura ocorre dentro de um a três meses (Birchard, 2008), no entanto a paciente estava há mais de 4 (quatro) meses com lesões crônicas e sendo medicado alopaticamente, sem sucesso, portanto a utilização da Ozonioterapia foi uma estratégia de boa eleição.

A prevenção mais eficaz consiste em evitar que os animais sejam picados por insetos, seja mantendo-os em ambiente fechado ou aplicando repelentes para moscas e mosquitos (Birchard, 2008).

O intuito maior das aplicações de ozonioterapia foi combater o microrganismo localmente, pois o gás ozônio pelo seu efeito oxidativo elimina a bactéria pelo contato direto gás-microrganismo, e as outras vias deram suporte ao sistema imunológico, modulando-o.

O animal segue estável, sem nenhuma lesão aparente e sem uso de antibióticos.

Este trabalho demonstra que a utilização do gás ozônio somou positivamente na evolução do caso, principalmente no desaparecimento das lesões granulomatosas, mostrando a eficácia do seu efeito antimicrobiano e poupando o animal da ingestão de longos períodos de antibioticoterapia, além do tratamento ser mais favorável ao proprietário que levou o animal para a sessão somente 1x na semana para a aplicação do tratamento, que era realizado na sua totalidade em trinta minutos, diferente da administração da medicação alopática oral  que era diária e em maior frequência, comprometendo o tutor com horários fixos por longos períodos, e principalmente exposição do paciente a efeitos colaterais que tais medicações podem causar a longo prazo. Entretanto, mais estudos fazem-se necessário para verificar a relação da aplicação do gás ozônio, protocolos e dosagens a serem feitas em casos de Síndrome do Granuloma Lepróide Canino.

 

Referências Bibliográficas

BALDA, A. C. et alii. Complexo granuloma leproide canino: relato de caso, Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, São Paulo, v.12, n.2, p.36, 2014. Disponível em: http://revistas.bvs-vet.org.br/recmvz/article/view/23912. Acesso em 27 Maio, 2017.

BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual Saunders: Clínica de pequenos animais. Ed. 3. São Paulo: Roca, 2008. 437-438 p.

DELUCHI, Priscilla. Síndrome do Granuloma Lepróide Canino. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Veterinária, Trabalho de Conclusão de curso. Porto Alegre, 2014.

KULEK, Ana Carolina G. Micobacterioses em cães e gatos: Revisão de Literatura. Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Curitiba, 2011.

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